segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Londres parte I

Postado por Dani


Acabei de ler o último post que fiz... Nossa, como já aconteceram coisas desde então! 

Voltei depois de muito tempo, mas agora tenho várias novidades pra contar (um pouquinho atrasadas, mas tudo bem haha)


Vou começar contanto sobre a minha viagem à Londres. 

Meu pai me chamou no Skype e disse que ia para Inglaterra à trabalho. Isso significava um convite com hospedagem inclusa para ver papai, que eu estava morrendo de saudades. Tinha como ser melhor? Tinha! Eu também não precisava pagar nada pela passagem, porque tinha milhas sobrando pra ir praticamente de graça. Óbvio que arrumei minhas malas correndo e fui.

Infelizmente o Ju não pôde me acompanhar, porque tinha que trabalhar. Então, aproveitei pra deixar a Jolie com ele, o que foi um alívio, já que viajar com ela pra Lisboa, em muitos aspectos, foi um pesadelo. Obrigada, meu amor. 

Enfim, continuando... Ficamos hospedados em Cambridge, mas um trem me levava à Londres em 50 min. Eu teria que aprender a fazer isso sozinha, além de me virar com meu inglês tupi-guarani em todos os lugares. Nada que muitas mímicas e a boa vontade dos ingleses não fossem capazes de resolver. 

Eu nunca tinha ido à Londres. Confesso que sempre achei que lá fosse legal, mas menos legal do que as pessoas costumam dizer. Isso porque, vamos ser sinceros, tudo que é "chique" é "legal", aos olhos de muitas e muitas pessoas. E uma viagem pra Londres é tipo capa do face de muita gente hahaha. Mas descobri que Londres é mais magnífica do que qualquer pessoa já tinha me falado! Descobri que realmente é um lugar único e encantador. 

Eu sou do tipo de pessoa que sempre detestou museu. Só conseguia ver um monte de coisas velhas, empoeiradas e desinteressantes através de um vidro. Os museus que eu já tinha ido na vida pareciam tão velhos quanto as coisas que eles guardavam. Mas agora eu sei que isso foi trauma daquelas excusões oferecidas pelos colégios ao longo da minha adolescência. Já perdi esse trauma. Londres me fez perder esse trauma. 

Os museus de Londres são incríveis! Lindos, organizados, interessantes (juro!) e a cara da riqueza. Londres é uma cidade histórica, cheia de prédios antigos, porém tudo muito bem conservado. Alias, tão bem conservado que você percebe que é antigo, mas não parece velho. Isso é mágico. 

As pessoas são tão acolhedoras e simpáticas que não dá pra acreditar que são tão europeias quanto os portugueses ignorantes e rabugentos. Os londrinos (ou seja lá de onde são as pessoas que lá residem) são amáveis e simpáticas demais, de uma maneira eu achava que só existia no Brasil. 

Passei 6 dias em Londres, inicialmente. Me perdi (muito!!!) no metrô, mas agora estou craque. Eu saia, todos os dias, as 7h do quarto e só voltava as 22h. 

Como meu pai já conhecia a cidade, eu pedi a opinião dele sobre o que visitar, apesar de ter levado meu próprio roteiro. Como era de se esperar, meu pai também levou uma espécie de roteiro pra minha viagem (mesmo sabendo que ele não ia me acompanhar em quase nada, porque estaria trabalhando). Papai adora uma pesquisa. A união dos nossos roteiros ficou incrível!

No primeiro dia, conheci o Museu da História Natural. Lá você encontra tudo sobre a evolução das espécies, desde antes da existência do ser humano até a atualidade. Tem todos os tipos de dinossauros possíveis. Mas não é um bando de osso parado, sabe? Eles se mexem (alguns, claro), luzes e sons criam um ambiente altamente envolvente... Fora que tudo é interativo! Só indo pra entender. Se você pode ir à Londres, faça isso.


Museu da História Natural visto de fora
Parte interna do Museu da História Natural


Nesse mesmo dia, eu fui ao Museu da Ciência. Esse também é muito legal. Pra quem gosta de antiguidades, é totalmente imperdível. Esse museu mostra a evolução da tecnologia em diversos ramos completamente diferentes. Lá fica muito claro e, literalmente, visível como a evolução de uma coisa depende muito de evoluções anteriores. É possível perceber como tudo se transforma individualmente, mas também paralelamente e que cada descoberta inovadora afeta diretamente ou indiretamente a vida de todos nós. Lá tem desde os primeiros carros até uniformes da nasa. A evolução das fontes de energia, dos tecidos, da medicina, dos meios de transporte... Tudo aquilo que você estuda no colégio e vê fotos nos livros tem ali, ao vivo e a cores!


Museu da Ciência


Já cheguei no hotel com outra visão sobre museus. De entediantes e feios, passaram a ser lindos e curiosos. Descobri que posso amar museus! Por essa eu não esperava. 

Então fui dormir, já louca pra que chegasse logo o dia seguinte. 

Acordei com os pés ainda latejando e fui correndo me arrumar, tomar café e ver o que tinha no meu roteiro do segundo dia. Eu tinha que ser rápida, porque a noite tinha um jantar da empresa do meu pai, no qual eu ia acompanhá-lo. 

Peguei um trem pra Londres e logo logo cheguei ao Museu Britânico. Um prédio de concreto e mármore branco, com um pé direito super alto e uma luminosidade maravilhosa. Dentro, alguns cubos de vidro guardam, em alas diferentes, a história de cada continente separadamente. Cada roupa, ferramenta, louça, escrita, e etc.,  de povos completamente distantes, muitas vezes sem contato algum, mas que em muitos aspectos são iguais! Encantador. Fora as estátuas gregas, os pedaços de rocha com hieróglifos e as outras milhões de coisas que ficam dentro daquele quase infinito museu... Impossível ver tudo em um dia! 

Dentro do Museu Britânico
Fora do Museu Britânico


Voltei correndo pra Cambridge e fui jantar com um monte de cientista maluco, na faculdade onde estudou Newton e ainda existe a macieira que o inspirou a descobrir a lei da gravidade. Não é demais? Newton sempre me pareceu tão irreal... 

Na mesa, cada pessoa falava uma língua, mas todos dominavam perfeitamente o inglês, exceto eu. Apenas papai, eu e mais uma mulher falávamos português. A moda usada pelas pessoas daquele ambiente é indescritível, já que só tinha nerd, um de cada canto do país. Não pude deixar de observar a cara de louco de cada um deles, enquanto falavam animadamente sobre coisas que eu não entendia. Só me restava saborear meu maravilhoso carneiro, os queijos europeus e todas as delícias daquele jantar servido em louça de prata.



Carneiro servido no jantar


O terceiro dia foi destinado ao centro de Londres. Big Ben, Abadia de Westminster, Parlamento.

Quando cheguei, estava sol em Londres, o que é quase um milagre. O sol batia nos prédio e parecia ser tudo de ouro. Juro, era a coisa mais linda do mundo. Lembrei do centro do Rio de Janeiro e tive vontade de vomitar. Nunca achei que o centro de uma cidade tão grande e com tanta gente pudesse ser tão organizado, limpo e bonito. São tantas câmeras fotográficas que não dá pra acreditar. Grupos de turistas, as vezes de 10 ou 15 pessoas, se movimentam ao mesmo tempo, entre um intervalo e outro dos semáforos. Entram e saem dos museus falando as mais diversas línguas, muitas das quais nem sei definir. Tirei algumas fotos na rua e entrei na Abadia. 

Parlamento
Big Ben
Sério, que lugar lindo. Se eu fosse religiosa, acho que eu iria ali todos os dias. Peguei o guia eletrônico da Abadia e segui todas as instruções. A arquitetura gótica, os móveis, os túmulos, os quartos, a cadeira da coroação... Me senti dentro daqueles filmes de época, é exatamente aquele cenário. Lindo daquele jeito. Amei esse lugar, fiquei horas dentro dele. Até acendi umas velinhas pra família e coloquei o nome de todos na caixinha para serem inclusos nas orações. Vai que funciona! hahahaha

acendendo velinhas

Abadia de Westminster


 Depois dei uma passadinha na Oxford Street e no Piccadilly, só pra não perder o resto do dia. Mas meus pés já estavam latejando há 3 dias. Então fui pro hotel umas 20h e jantei no melhor restaurante que já comi na vida, na companhia do papi. Fechei o dia com chave de ouro.
Comida servida no restaurante espanhol que ficava dentro do hotel

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Choque cultural

Postado por Manu


Eu sei que já faz muito tempo que não escrevo aqui, mas essa semana eu senti a necessidade de voltar pro blog. Se alguém estiver esperando ler um texto divertido e cheio de momentos deliciosos, é melhor fechar essa janela e arrumar outra coisa para fazer, porque hoje eu vou filosofar. Tá, filosofar é um exagero, mas o assunto de hoje basicamente é sobre como o Nepal está me ensinando muito sobre mim mesma. Eu disse, é melhor você fechar essa aba!

Muita coisa aconteceu desde a última vez que postei alguma coisa no blog e eu estava matutando uma maneira de fazer um belo resumo de tudo, tentando fazer com que qualquer pessoa que lesse meu texto pudesse vivenciar todos esses momentos comigo, que pudesse se divertir também. Mas isso perdeu toda a importância depois da minha viagem à Lumbini.

Lumbini foi a cidade onde o Buda nasceu, então você pode imaginar a empolgação do André quando eu disse que faria a viagem com ele, né? Inicialmente iríamos eu, o André e a Fernanda de avião, mas no final o Prakrit decidiu nos acompanhar e arrumou uma van para levar a gente.

Até aquele dia, nós já tínhamos visitado muitos lugares aqui em Kathmandu e, como é de se imaginar em um país onde existem 33 milhões de deuses (!!!!), a maioria era templo. Antes de vir ao Nepal, eu não sabia absolutamente nada sobre a religião Hindu e, até agora, ainda acho que não sei. Mas os nepaleses são muito religiosos e é praticamente impossível não ter algum contato com a crença deles.
Da primeira vez que visitei um templo, fiquei completamente impressionada com o lugar: uma arquitetura totalmente diferente de tudo que eu já tinha visto, muita gente, muitos carros, muito bicho e muitas estátuas de deuses. Era tanta coisa acontecendo junta, que eu nem sabia o que pensar, não sabia dizer se tinha gostado ou não, se era bonito ou feio, bom ou ruim. Alguma coisa mexeu comigo, me lembro de achar muitas coisas lindas, mas ao mesmo tempo eu me sentia incomodada e nem sabia com o que! Era uma sensação confusa em relação a um lugar caótico, então achei que deveria ser um sentimento comum, afinal eu era uma ocidental visitando a Ásia pela primeira vez. Eu estava, literalmente, do outro lado do mundo!

Algumas pessoas, quando submetidas à uma situação extremamente diferente, conseguem "processar" imediatamente todo aquele cenário...mas eu pertenço ao grupo que precisa de um tempo, para digerir e interiorizar, tudo que chegou ao meu corpo naquele momento: os cheiros, as cores, os gostos, quem eram aquelas pessoas, que lugar é esse, como eu me sinto aqui? Eu não sabia que precisava desse tempo e ia "acumulando" as informações que chegavam até mim, meio sem saber o que fazer com elas. Eu sabia que aqui existia muita pobreza, podia ver a sujeira nas ruas, escutava as infinitas buzinas de um trânsito insano, reconhecia os altares e templos construídos em homenagem a tantos deuses....mas era só isso, eu não conseguia "tirar" nada das experiências, parecia que era tudo tão diferente que nem pertencia à realidade: eu sentia como se fosse tudo tão estranho que eu nem mesmo participasse daquele lugar, como se não estivesse ali...era como se eu apenas visse um filme sobre um lugar muito esquisito! Sabe quando você assiste alguma coisa assim e, quando acaba o filme, fica aquela sensação de "estranheza" lá no fundo, alguma coisa que te tira da zona de conforto e que demora pra passar? Foi em Lumbini que eu fiz a digestão.

A nossa viagem começou bem cedinho, com o Prakrit chegando aqui no hotel com a van que iria nos levar até Lumbini. Como eu já disse muitas vezes, o trânsito daqui é uma coisa completamente maluca e desgovernada: na primeira vez que andei de carro, achei que iria sofrer um acidente a cada 3 minutos. Não existe sinal de trânsito e os guardas são solenemente ignorados, enquanto carros, motos e gente disputam por um lugar no meio da rua. Todos ficam a apenas alguns centímetros um dos outros e, às vezes, eu preciso fechar os olhos para não sair correndo do carro.

Mas a empolgação da viagem me fez esquecer desse pequeno detalhe e, empolgadíssimos, embarcamos na van.  O nome do nosso motorista era Ashanka e bastaram poucos minutos de viagem para que o nosso meio de transporte fosse gentilmente apelidado de "Ashanka's Crazy Van". Sério, é um milagre estarmos vivos e inteiros! Se o trânsito aqui é caótico, você não faz idéia da situação das estradas e da noção de "segurança" dos motoristas!!!! Imagina a cena: de um lado, um penhasco enooorme (a viagem praticamente toda era subindo montanha), do outro um paredão e , no meio, uma estrada totalmente horripilante, com apenas 1 pista de cada lado....e para completar, milhões de caminhões e ultrapassagens do mais ALTO GRAU de risco feitas pelo Ashanka! Sério, eu tenho um anjo da guarda. Foram 7 horas de viagem na ida e mais 7 horas na volta... Que beleza!

Chegamos à Lumbini na noite de sexta-feira. No sábado de madrugada (6 da manhã é madrugada, sim senhor!) acordamos, tomamos café e partimos rumo ao nosso passeio: o objetivo era ir até um parque onde está marcado o local do nascimento do Buda, além de muitos templos budistas, cada um construido por um país diferente, com uma arquitetura própria. Paramos com a van em frente ao parque e percebemos como o lugar era enorme, com diversos caminhos e praticamente nenhuma sinalização: iríamos precisar de um guia. Rapidamente fomos cercados por uns nepaleses que dirigem uma espécie de bicicleta, que tem um banco na parte de trás, onde cabem 2 passageiros. Poderíamos escolher isso ou simplesmente alugar uma bicicleta comum, mas é óbvio que eu não queria nem pensar em pedalar por muitos quilômetros, ainda mais com tantas camadas de roupa. Escolhemos a bicicleta com "motorista".

Foi aí que essa viagem começou a me trazer sentimentos contraditórios. Eu estava em um parque muito sereno, um lugar que parece mergulhado num espírito de paz, silencioso, mágico.. E eu nem precisava andar! Estava sentadinha naquela bicicleta, só aproveitando a paisagem...Bom, isso é o que deveria estar acontecendo, mas eu não conseguia tirar os olhos do nosso "motorista". Eu estava com 2 blusas, um cachecol, um casaco, 2 calças, duas meias e uma bota de couro...e estava com muito frio! Ele estava com um chinelinho, uma calça de tricoline e uma casaco tipo de flanela. Aquele homem deveria pesar menos que eu...era extremamente pequeno e magro, a calça completamente descosturada e o casaco cheio de furos! Ele fazia tanta força para pedalar que nunca se sentava, ficava pedalando "em pé", sabe? Meu Deus, aquilo me cortou o coração! Para que eu pudesse me poupar de andar por tantos quilômetros, para que estivesse bem confortável e tranquila, aquele homem magérrimo precisava nos carregar nas costas. Meus olhos estavam cheios d'água, porque eu estava me sentindo estupidamente imbecil e egoísta por estar naquela situação... Por outro lado, esses homens chegam nas primeiras horas da manhã, enfrentam frio e fome, passam o dia inteiro tantando levar pelo menos 1 único passageiro, tentando garantir algum dinheiro naquele dia. Eles vivem assim, um dia de cada vez e o fato de ele ter sido "escolhido" para nos guiar naquele passeio, de um modo, parecia uma bênção. Mas eu não estava gostando da sensção dele querer aquele valor ridículo para nos carregar por horas e, no final do dia, achar que deu "sorte" por ter descolado uma graninha.


É claro, não foi a única vez que vi alguém pobre...também não foi a pior situação de pobreza que já presenciei, mas por algum motivo, eu fiquei tocada como nunca antes! Eu me lembro de quando era criança, que ia pra escola de combi (é, combi mesmo!) e via mendigos na rua, catador de lixo, etc, e pensava que um dia eu tinha que trabalhar muito pra tentar acabar com a pobreza. A inocência de uma criança, que se perdeu com o tempo e, por saber que eu iria sofrer e me sentir frustrada se parasse para realmente VER e sentir toda a pobreza que existe a minha volta... Simplesmente seria difícil demais! Então a gente passa a vida olhando pra essa situação, mas sem ver de verdade o sofrimento das outras pessoas. É mais fácil assim, é mais confortável, podemos ser felizes com nossos desejos egoístas se fingirmos que tudo está bem. Mas não está, nada está bem! Muita gente sofre e todos nós estamos colaborando com isso, estamos paralizados pela nossa hipocrisia. Parece que todo dia vamos ficando, cada vez mai,s anestesiados em relação ao sofrimento alheio, a gente olha e não sente, vivencia aquela situação nos ausentando de culpa.

Eu me senti muito culpada, meu coração estava destroçado e cada pedalada daquele homem era um golpe pra mim. Eu queria sair correndo, jogar esse meu celular idiota no lixo, entregar minha roupas pra ele, perdir perdão por tudo...  Eu sempre disse que queria fazer algum trabalho social e, me lembro de quando tinha uns 16 anos ter tentado encontrar alguma coisa que pudesse fazer, mas eu sentia que aos 16 anos eu não tinha nada para dar ou ensinar à alguém. E claro, no fundo eu também queria alguma coisa  "fácil", perto de casa, "segura", etc....porque nós somos assim, meu Deus?

Esse momento trouxe à tona milhões de sentimentos e uma vontade enorme de gritar, chorar, pedir que todos parassem e, por favor, olhassem uns para os outros de verdade. Eu ainda não sei o que fazer, me sinto completamente inútil e pequena diante do sofrimento das pessoas, mas sei que preciso fazer alguma coisa. Porque eu sou abençoada, tenho comida farta, uma casa confortável, tenho carro, milhões de futilidades e, mesmo assim, acho um saco ter que pegar um ônibus ao meio-dia no verão do Rio de Janeiro. Mas eu ficaria 30 minutos dentro desse ônibus e moça que trabalha lá em casa deve ficar umas 3 horas só para chegar em casa!

Eu me arrependo profundamente de todas as minhas reclamações e sei que preciso estar mais atenta às dificuldades REAIS das outras pessoas. Porque mesmo que eu não tivesse recursos financeiros, no final de tudo eu ainda teria uma família perfeita como a minha, cheia de amor e união. Muita gente não tem nem mesmo alguém que se importe com elas....eu quero me importar, eu quero muito me importar de verdade! Esse passeio pelo parque me mostrou a pessoa egoísta e fútil que eu sou, foi como levar um tapa na cara e acordar pra realidade. Uma realidade que é lógico, eu sabia que existia, mas que foi esfregada na minha cara e eu TIVE que abrir os olhos, precisei sair da "bolha" que criei para que eu não me sentisse desconfortável com o sofrimento do outro.

E agora eu não paro de me perguntar o que eu realmente posso fazer, de fato, para mudar um pouquinho a situação. É óbvio que não dá pra salvar o mundo todo, e num primeiro momento esse fato faz a gente se sentir completamente amarrada, como se não houvesse saída. Mas tem que ter uma saída, tem que existir alguma coisa que possa ser feita.

Só agora, escrevendo aqui, eu me toquei: essa "revelação" aconteceu comigo ali, exatamente onde o Buda nasceu! Sinistro...

Quando aquele passeio acabou eu estava me sentindo esgotada e parece que, pela primeira vez em muito tempo, estava de olhos bem abertos. Tudo me incomodava! No dia seguinte, quando pegamos a estrada de volta para Kathmandu, paramos em uma birosca de beira de estrada para comer e o Ashanka se sentou em outra mesa, como se por ser o motorista não pudesse se sentar com a gente. Ele também não dormiu no mesmo hotel que a gente, um hotel 4 estrelas com aquecimento, banho quente e camas confortáveis....até agora não sei onde ele passou a noite e, mais uma vez, me senti uma idiota. Como é que a gente só se preocupa com nós mesmo, né? Depois de dirigir pra gente por 7 horas até Lumbini, chegamos no hotel, pegamos nossas malas e nos instalamos nos nossos quartos, pronto! Nem pensamos onde o Ashanka iria dormir! Eu sei que ele está acostumado e já tinha um lugar certo para ficar, mas ESSE é o problema! Ele está acostumado....

No caminha de volta resolvemos parar em um teleférico gigantescoooooo, porque o Prakrit nos disse que lá em cima da montanha ficava o templo da Deusa mais poderosa deles, onde a gente poderia fazer 1 desejo. Ele disse que poderíamos pedir qualquer coisa, porque essa deusa era muito poderosa e realizava tudo! Fazer 1 desejo que era, aparentemente impossível, era tudo que eu queria naquele momento. Compramos o ticket e fomos. O teleférico era uma cabine fechada, como no bondinho do Pão de Açucar, só que o carrinho era menor e o caminho beeeeem maior. Assim que nos preparamos para entrar, percebemos que, de vez em quando, tinha um "carrinho" que não era fechado, era como um cercadinho, mas nem pensei em perguntar para quê servia aquilo.

Chegando lá em cima, a coisa ficou intensa. Muitaaaa gente andando para todos os lados, com roupas coloridas, falando alto, cachorros dormindo no meio do caminho...ao passo em que nos aproximávamos do templo podíamos ouvir uma música bem alta, que vinha de uns homens tocando tambores e cantando...algumas mulheres se reuniam e dançavam felizes. A Fernanda e o André tentaram dançar também e é claro que o templo PAROU pra ver aqueles gringos esquisitos se mexendo daquele jeito!

Atrás do templo tem uma vista maravilhosa e foi a primeira vez que vimos o Himalaya! É incrível o tamanho e a beleza dessas montanhas, uma coisa que não se pode explicar, é preciso ver. Prakrit comprou uns incensos para nós e mandou que cada um acendesse o incenso pensando no desejo e desse a volta no templo, tocando as dezenas de sinos, para que a Deusa pudesse ouvir nossos pedidos. Quando a gente chegou na parte de trás do templo, havia num lugar totalmente tumultuado e cheio de gente...o Prakrit foi na frente e disse que era melhor a gente não ir ali.

Nós sabíamos que os Hindus sacrificavam animais em rituais de oferenda aos Deuses, então entendemos o recado e saimos o mais rápido possível dali. O André quis ver e disse que tinha um bodinho numa espécie de altar, onde um homem cortou a cabeça do bichinho e deixou que o sangue esguichasse em cima de um objeto, para depois arremessar o corpo do animal no chão. Muita gente assistiu ao sacrifício sem problema nenhum, inclusive muitas crianças! Foi aí que aquele lugar realmente começou a me trazer um desconforto agoniante. Aquele barulho de tampor, pessoas gritando, gente dançando e animais sendo sacrificados, um atrás do outro, em oferenda à essa Deusa que, segundo Prakrit, opera com magia negra.

Sem preconceitos, mas eu estava me sentindo num terreiro de macumba e nunca me senti tão pesada e esgotada na vida! Vimos uma moça passando com uma galinha, que seria sacrificada, e a pobrezinha TREMIA no colo da mulher...alguém aí já viu galinha tremer? Eu nem sabia que elas faziam isso! O Prakrit nos disse que aquele "cercadinho" do teleférico era para que os bodinhos que iriam ser sacrificados subissem a montanha! A gente viu muitos bodinhos chegarem nesses carrinhos, com as pessoas puxando os bichinhos (que abanavam muito o rabinho assim que saiam do carrinho) como se fossem passear....como elas tinham coragem de matar o bichinho assim? COMO??

Eu sei que é a religião deles, que é cultural, mas sinceramente eu não consigo engolir isso! Porque eles precisam MATAR os bichinhos para fazer pedidos pessoais? Isso é absurdo demais, é incoerente demais, é dolorido demais pra mim....

Depois de visitar esse templo, eu entendi porque todos os templos hinduístas são cobertos por uma tinta vermelha: é para representar o sangue. Tudo naquele lugar me enjoava: tinha tinta vermelha espalhada por todo o chão, animais sendo sacrificados aos montes, muito barulho e muita comida. Eles oferecem muita comida (principalmente arroz) aos Deuses, por isso o lugar inteiro fica coberto de alimento e, por causa disso, MUITOS pombos. Misturar daquele jeito a comida, com o sangue dos animais, com o lixo e a sujeira me deixou muito enjoada! E diante daquele exagero, daquela situação tão absurda para mim, eu finalmente entendi porque ficava tão desconfortável nos templos que visitamos aqui em Kathmandu: todos têm muito arroz pelo chão, pombos voando, lixo em toda parte e TUDO é coberto por esse tinta vermelha. Na hora que eu olho pra essa tinta, só consigo pessar no sangue dos bichinhos. Sei que é cultural, sei que é da religião deles, mas naquele momento eu decidi que precisava respeitar os meus limites e que não queria mais visitar nenhum templo hinduísta.

Voltamos para o carro rumo à Kathmandu. Quando cheguei no hotel, estava tão agoniada, tão desconfortável...eu acho que chorei umas 2 horas. Nada me satisfazia! O mundo é cruel demais, existem muitos seres sofrendo! Só o fato de estar de volta nesse hotel 5 estrelas e nem saber como o Ashanka vive, me doía...e ainda dói, graças à Deus, porque eu não quero mais fechar os olhos. E eu me senti ainda pior, quando disse pro André que aquilo tinha sido demais pra mim, que ver os animais sendo mortos foi muito difícil...aí ele olhou pra mim e disse "Mas porque? A gente não mata para oferecer aos Deuses, mas eles não disperdiçam aquela carne, eles colocam o corpo em sacos, levam para casa e comem. A gente também cria animais somente com o objetivo de matar e comer". Eu disse que era muito diferente, que a gente precisava comer, que na natureza é tudo assim, um ser come o outro para viver, é normal.... Aí ele disse " Então, eles estão fazendo exatamente isso, mas antes de matar eles oferecem aos Deuses! Nós fazemos a mesma coisa, mas como temos alguém para matar, para fazer o trabalho sujo por nós, nos achamos mais civilizados. Na verdade, tem mais honra em matar com as próprias mão, para comer, do que ir no supermercado comprar um bife que alguém cortou pra você". Desabei. É verdade, somo hipócritas, eu sou hipócrita! :(

Essa viagem pra Lumbini me fez enxergar melhor o mundo e, principalmente, me fez me enxergar melhor. É muito mais sofrido e doloroso ver as coisas como realmente são, mas é preciso. Eu precisava de um chacoalhão, precisava sentir esse desconforto e saber, no fundo do meu coração, que a única coisa que me importa de verdade é o amor. Eu sei que é piegas, que é cafona dizer isso, mas eu não me importo. Eu vou lutar para que eu nunca me esqueça dessa viagem e para que eu possa tirar dela muitas outras lições.

Manu

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Vida nova

Postado por Dani

Apesar do inverno da Madeira ser razoavelmente ameno, se comparado ao restante da Europa, eu não consigo parar de reclamar do frio. Tenho certeza que minha mãe adoraria o clima daqui, o que significa que pra mim é insuportavel. O pior de tudo é ter que ver as fotos do verão do Rio de Janeiro. Ai, eu dava tudo por uma praia... Furar uma onda, naquele sol que deixa qualquer um tostado em meia hora, tem sido meu sonho ultimamente.

Até exatamente uma semana atrás, eu evitava ao máximo sair de casa, sempre pensando que sair pela porta do prédio significava enfrentar aquele maldito vento, que dá sempre um jeito de entrar pela roupa. Outra coisa chata de sair aqui é que é impossível não encontrar um conhecido na rua, já que todo mundo do nosso ciclo de amizades mora no mesmo bairro. Então, eu sou obrigada a sair de casa minimamente apresentável, nada de mulambos e cabelos desgrenhados. Mas o que me apavora mesmo é o frio! Deixei até mesmo de ir assistir ao último jogo do Nacional (clube que o Juliano joga) no estádio, porque lá é um dos lugares mais frios daqui. E olha que esse é um programa que eu nunca tinha perdido, nem quando eu vinha pra Madeira só de férias. 

Dessa última vez, achei melhor ficar na parte menos gelada da cidade e aproveitar os saldos. Fui ao shopping com a Camila e comprei tudo que eu não precisava, mas estava valendo muito a pena, e também parte do que eu precisava. Era de se esperar. Como posso estar sempre precisando de tantas coisas? Juro, estou sempre precisando, de verdade. O pior de tudo é que a Camila é a nova Vanessa da minha vida, quando de trata de shopping. Ela adora dar umas voltinhas e nossa conversa é mais ou menos assim:

Eu: O que você acha?
Camila: Gostei, e está valendo muito a pena.
Eu: Será que eu compro, Camila?
Camila: Eu vou comprar, compra também!

E lá vamos nós duas pro caixa. Não posso ir sempre ao shopping com ela, definitivamente.

Depois desse dia no shopping, eu lembrei como me faz bem sair de casa pra fazer os meus programas, que são só meus. Desde que cheguei aqui, eu só tinha saído pra comer, pra ir ao estádio e pra ir ao cinema, sempre com o Ju. É claro que fazer essas coisas também é MUITO bom, mas percebi que se 100% das minhas atividades incluírem o Juliano, eu vou ficando rabugenta. Ele não merece isso, nem eu. Acho que cada um precisa, minimamente, conservar sua individualidade. Afinal, ainda somos duas pessoas diferentes, que curtem algumas coisas que o outro não curte, ou não gosta de fazer com tanta frequência!

Eu sou meio preguiçosa pra sair nesse frio (tipo a Manu é pra sair em qualquer clima), mas resolvi que eu precisava mudar. Por isso, me matriculei na academia, algo que eu já deveria ter feito há muito tempo, mas estava enrolando! 

Dei sorte! Entrei no mês de aniversário da academia, e consegui fazer um plano de 60 euros com todas as atividades da academia inclusas. Tem muitas opções: musculação (como todos os aparelhos da Technogym), natação, pilates, yoga, sauna, jacuzi e uma infinidade de aulas de grupo. 

Já estou frequentando a academia há uma semana e estou orgulhosa de mim! Mesmo quando as meninas não podem ir, ou querem ir num outro horário, eu vou sozinha, até quando está chovendo. Sério, me superei. E devo dizer que isso tem me feito super bem. Ando com um humor melhor! Isso gera um resultado positivo pra mim, pro meu casamento e pro meu corpo, que quase sempre esteve no sedentarismo.

Percebi também como criar qualquer objetivo, por mais bobo que seja, me deixa mais feliz. Sinto que não vou conseguir ficar muito tempo só com a academia, mas, por enquanto, estou curtindo minhas férias sem prazo certo pra terminar. Enquanto isso, vou me adaptando as novas (várias) obrigações que chegaram pra mim, junto com o fato de agora eu ter uma casa sem uma mãe e um pai em anexo! Ainda estou "brincando de casinha", como diria a Loló.

Beijos, Dani 



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Perigo à vista!

Depois do ano novo, viajei pro sítio do Diogo (namorado da Roberta) junto com a Crá-Crá e o Fifi. Foi demais. Enquanto a Crá-Crá mantinha sua postura régia e praticamente indiferente aos outros cães, o Fifi virou bandidão, ficava interagindo, correndo, e participando de tudo que os outros cães faziam. Sendo que eram 4 golden, 1 border collie e 2 shi tzu. No início eu morria de medo dele ser pisoteado, principalmente quando todos eles saiam correndo e latindo, mas é impressionante como os cachorros grandes podem ser atenciosos e delicados quando querem. O duke voltou sem nenhum arranhão e completamente feliz.

Voltei de viagem no Domingo, já tarde da noite, e na segunda viajei de novo. Dessa vez, fui com a minha família (ou pelo menos o q sobrou dela) para PETAR - Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira. Até que foi legal, mas depois do primeiro dia inteiro visitando cavernas, percebemos que não era bom o suficiente para ficarmos uma semana repetindo isso todos os dias. Resolvemos então ir para a capital, São Paulo, e fazer uns programas por lá.

Realmente foi uma decisão sábia. Apesar de termos trocado de hotel (e isso foi bem chato de se fazer), valeu a pena. No primeiro dia, apenas descansamos da viagem. Mas no segundo eu, mamãe e Carol fomos fazer compras na 25 de março, enquanto papai cuidava da nossa mudança para o outro hotel. Nesse dia, à noite, saí com uns amigos para conhecer a balada de São Paulo. Foi muuuito legal, e pra mim foi um plus da viagem. No terceiro dia fomos ao zoológico, e nem preciso dizer que pra mim foi o melhor dia de todos. Começamos com um safári, onde a gente passava devagar com o carro e interagia com os animais, dando ração que compramos na entrada. Em alguns casos, como na área do tigre, não dava pra fazer isso.. mas a gente compreendeu =). No último dia apenas tomamos um delicioso café da manhã no hotel e voltamos pra casa.

Eu contei rapidamente tudo que aconteceu depois do ano novo porque o motivo que me levou a sentar e escrever novamente no blog é muito mais interessante e obscuro do que esses passeios da vida.

Ontem à noite, quase 1 da manhã, o Barata veio me perguntar pelo facebook se a barraca de camping dele ainda estava comigo. Eu disse que sim, e ele me disse que pretendia viajar no dia seguinte ia passar aqui com o Jovem pra pegá-la. Quando eles chegaram, resolvi descer com os cachorros. Eu já tinha levado eles umas 8 horas da noite pra fazer xixi, mas como eram 1 da manhã, pensei que seria um bom investimento.

Levei a gangue animal sem coleira. É tranquilo fazer isso, ainda mais de madrugada quando não se vê pessoas e nem carros nas ruas do recreio. Mas as coisas fugiram do meu controle assim que passei pelo portão do prédio.

Os cachorros estavam latindo muito, talvez porque eles não conhecem muito bem o Jovem. A coockie me acompanhou até o portão de ferro latindo, mas o Duke ficou próximo da porta de vidro, sem descer as escadas, fazendo uns sons esquisitos que nós consideramos ser o latido dele. Nisso, o Barata resolveu que ia falar com ele e começou a subir a escada. Quando o Duke percebeu a intenção dele, virou as costas e saiu correndo com toooooda a velocidade e força possíveis de volta ao elevador.... mas a porta de vidro estava fechada, e ele não percebeu.

PÓÓÓÓÓÓÓÍIIMMMM!!!! O duke deu uma cabeçada e tanto naquela porta! O Barata ficou assutado, perguntando se eu tinha visto. Mas a única coisa que vi foi o Duke correndo de um jeito esquisito para baixo, em direção ao portão. Ele passou correndo por mim e pelo jovem de um jeito assustado e ficamos apenas rindo, ainda que ele estivesse atravessando a rua sozinho: não tinha absolutamente nenhum carro ou pessoa ao alcance de nossas vistas. Eu comecei a chamar por ele, mas o perdi de vista quando ele chegou na outra calçada e foi para trás de um carro. Dei um minutinho pra ele se acalmar e fui pegá-lo. Chamei, chamei, chamei.... e nada. O jovem veio, olhou embaixo de todos os carros... e nada. Achamos que ele tinha entrado no prédio da frente, porque ele atravessou a rua em linha reta. Começamos a procurar no jardim, mexendo nos arbustos.... e nada. O cachorro DE-SA-PA-RE-CEU. Não dava pra acreditar. Mas quem conhece, sabe que ele é muito pequeno e no escuro, enquanto ele se esconde com medo, é praticamente impossível de achar. Ficamos muito tempo procurando e eu já estava ficando realmente preocupada com a situação. De repente, eu percebo que o Jovem se afastou e já estava na esquina procurando por ele. Claro que ele não estava ali, e continuei nos arbustos. Ele não podia estar longe.

Nessa hora, o Jovem gritou alguma coisa e vimos que ele sinalizava que o Duke estava DEPOIS DA ESQUINA! Eu quase não acreditei! Como ele foi tão rápido???!! Ninguém viu ele passando pela calçada inteira! Um vigia da rua estava de bicicleta e disse que viu ele passar correndo para uma outra rua, paralela a nossa, onde tem o canal do Recreio, cheio de jacarés e capivaras selvagens. Puta merda! Nessa hora a coockie já tinha percebido que alguma coisa estava errada, e sem eu nem chamar ela não saía do meu lado e não parava pra cheirar nada. Peguei minha bolsa e corri o mais rápido que eu pude atrás dos meninos, enquanto o vigia explicava que perdeu ele de vista... e o pior de tudo: ele estava indo em direção à Glaucio Gil, uma das principais ruas do Recreio e que tem carros passando qualquer hora do dia. Nunca me arrependi tanto de não colocar coleira no Down (Duke). Só ficava rezando pra ele não ser atropelado, ainda mais sabendo que mal dá pra ver ele de dentro de um carro e imaginava ele atravessando as duas pistas sem nem olhar pro lado, daquele jeito medroso que quem conhece, sabe como é. Pra piorar, tive que deixar os meninos irem na frente, porque a Crá-Crá não conseguia correr tão rápido quanto a gente e não podia abandonar ela tão longe de casa. Fiquei desesperada.

Quando finalmente cheguei na Glaucio Gil com a Cra-Crá, eles não estavam à vista. Eu não sabia o que fazer. Enquanto recuperava o fôlego, tentava decidir em qual rua eu ia entrar pra procurá-los... quando o meu celular tocou. Era o Barata. Eu rezei com muita força pra não atender e ouvir ele dizendo que acharam o Duke morto, atropelado. Rezei muito mesmo. Quando atendi, o Barata falou pra eu correr pra dentro da Via 9, que um outro vigia tinha acompanhado o Duke correndo até ali. Ufa! Mas a cada parte dessa saga eu me perguntava como é que aquele ratinho correu tanto, tão rápido, e tava enganando todo mundo??! Essas coisas só acontecem comigo, eu JURO! Se a Beth estivesse também, teria sido ainda mais sinistro. É sempre assim.

Entrei na via 9 e encontrei com o Barata, o Jovem e mais dois vigias que tentavam encontrá-lo. Um deles disse que da última vez que tinha visto o Duke, ele tava no meio do mato, próximo a água do canal. Mas tava muuuuito escuro, o mato era muito alto (quase no nosso joelho) e o duke já tinha corrido tudo aquilo praticamente sem ser percebido! Ele poderia já ter corrido muito mais e a gente nunca ia saber. Eu nem sabia como ele tinha conseguido ir tão longe de casa e tão rápido. Nunca imaginei que ele faria isso! Era uma daquelas situações em que você pensa: "se eu acordar e tudo isso for um sonho, não vou me surpreender". De qualquer forma, tínhamos realmente perdido ele de vista agora, e eu sabia que ele não voltaria pra casa sozinho. Ficamos muito tempo procurando, mas um dos vigias disse que ele tinha que estar ali... e ficamos no meio do mato, do lado da água fedorenta, 2 horas da manhã, correndo o risco de sermos atacados por jacarés e capivaras, além de cobras e aranhas, procurando o Fifi. Era desesperador. Eu já estava quase ligando pra acordar meu pai e montar um grupo de busca, quando alguém grita "Ali! Ali! Ou é uma capivara, ou é ele!" Eu fui correndo ver, e percebi que aquilo foi um MI-LA-GRE: o Duke estava na beiradinha do rio, totalmente imóvel e em pânico, escondido por um monte de mato. Dava pra ver apenas um pedacinho minúsculo da cabeça dele, que se destacava tão branquinha comparada ao escuro do mato. De longe eu vi que não era uma capivara. Pedi pra todo mundo se afastar e chamei. Achei que quando ele ouvisse minha voz e a coockie do lado, ele viria. Mas eu chamava e ele nem se mexia. Fiquei assustada, pensei que ele estava machucado. Sem nem pensar, fui descendo a borda do rio, que naquela parte era muito íngreme e toda hora parecia que eu ia derrapar e cair de cara naquele esgoto preto. Quando cheguei bem do lado dele, chamei baixinho. Mas ele nem tremia, nem se mexia... nada. Não dava pra chegar mais perto, o terreno era muito ruim. Fui esticando minha mão na direção dele bem devagar, pra não assustá-lo, e rezando pra um jacaré não comer meu braço ou o Duke. Puxei ele bem rápido e entreguei pro Barata que estava logo atrás de mim. Algum dos vigias me puxou pela mão para fora dali. 

Quando estava novamente no asfalto, peguei o Fifi. As patinhas dele estavam todas molhadas e completamente pretas, fedendo mais do que nunca a esgoto. Tadinho, ele correu até o rio e deve ter pensado em entrar nadando de tanto pânico que estava sentindo. Fui levando ele pra casa no colo, enquanto a gente conversava sobre essa maluquice toda que tinha acontecido... foi quando eu notei que o Duke ainda não se mexia. Ele nem balançava o rabo, ou lambia, ou tremia... nada, nada. Percebi que ele estava em estado de choque! Acho que foi na hora que ele deu a super-cabeçada no vidro, mas ele estava muuuito estranho, parecia que tinham feito uma lavagem cerebral nele, e agora ele era um corpo com uma mente vazia. Cheguei em casa, lavei as patinhas dele na varanda com sabão de coco, e mesmo enquanto eu colocava a mangueira diretamente nas patas dele, ele NEM SE MEXEU! Nessa hora eu tive certeza que ele estava em choque. Fiquei com muita peninha, peguei a casinha dele e coloquei na varanda pra ele deitar perto da gente enquanto se recuperava. Meia hora depois, ele continuava na mesma posição. Ele também mantinha os olhos muito arregalados, sem piscar, e com uma expressão vazia. Foi horrível. Mas aí a coockie veio e deitou do lado dele. O Barata ficava mexendo nele e falando "reage, Duke!", até que uma hora eu tirei ele e coloquei no chão. Ele demorou uns minutos, mas finalmente conseguiu se mexer e deu dois passos até a casinha, deitou do lado da coockie e em pouco tempo, dormiu. Hoje de manhã, levantei e dei de cara com ele na sala, em cima do sofá, balançando o rabinho e vindo em minha direção. Abracei tanto ele, dei taaantos beijinhos de felicidade... Foi um milagre encontrarmos ele vivo, um milagre dois vigias que deveriam estar dormindo na cadeira terem seguido ele, encontrado a gente e nos ajudado. E mais milagre ainda termos conseguido ver ele no meio daquele mato alto e escuro. Ainda não consigo acreditar no que fizemos. Descobri que amo o Fifi mais que tudo ^^.

Gabi.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cotidiano

Postado por Dani

Já que estou morando um pouquinho longe demais, vou mostrar umas fotos dos lugares onde mais frequento e também da minha casa, pra que vocês possam conhecer!

Aqui posso fazer tudo a pé. Atravessando a rua, eu chego no shopping. Dentro do shopping tem supermercado. E na rua ao lado de casa fica a academia. Gosto muito da localização do apartamento, é bem pratico e minimiza a preguiça de sair de casa! 

Nessa primeira foto, dá pra ver do lado esquerdo o shopping (Fórum Madeira) e do lado direito, onde tem a fila de táxi, o prédio onde moro!  Não é fofo esse lugar?






Na foto abaixo, dá praver a ciclovia que tem aqui na minha calçada, logo quando acaba a fila de táxi.


Essa é a vista da ciclovia, uma plantação de bananeiras e o mar! 



Essa é a vista da minha sala!




Essa é a vista da minha varanda, quando olho pro lado direito (olha aí novamente a fila de táxi).




 Nessa foto dá pra ver a minha varanda. É a segunda, da esquerda pra direita, e de baixo pra cima é a segunda.



Esse é um jardim que tem aqui no prédio, onde eu levo a Jolie pra brincar um pouquinho, apesar de ser proibido cachorro (tô copiando a vizinha). Ela corre como uma louca!






E essa é a nossa casinha! Aproveitei pra tirar as fotos agora, porque a faxineira acabou de ir embora. hahahah


Sala

Quarto

Cozinha

Banheiro
Esse porta escova de dente foi a Mirinha
 que deu pra gente! É muuuito útil e bonitinho, né?

Beijos, Dani.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Final de semana de passeios- PARTE 1

Postado por Manu

07/01/2012

Essa semana a Chancelaria foi inaugurada e os trabalhos não estão mais sendo feitos nos quartos do hotel. Apesar de ficar aqui sozinha, enquanto o André e a Fernanda vão trabalhar, eu gostei da mudança! Porque agora eles não "moram" com o trabalho e podem se dedicar um pouquinho mais ao lazer e à vida pessoal, ou seja, sobra mais tempo pra ficarmos juntos e nos divertimos! ;)

Por isso na sexta-feira à noite nós já estávamos planejando todos os passeios do final de semana. A gente ouvia falar de Durbar Square e decidimos conhecer, mas consultando o nosso Lonely Planet, descobrimos que Durbar Square significa, basicamente, Praça do Palácio. Ou seja, existem várias praças desse tipo por aqui, não é o nome de um lugar, como imaginávamos. A gente queria visitar uma Durbar Square que ficava um pouco mais distante do hotel, mas essa precisava apresentar o passaporte e os nossos estão retidos para a emissão de uma "carteirinha de identidade". Ficou acertado então que iríamos na Durbar Square chamada Basantapur, já que a recepcionista do hotel nos disse que lá o passaporte não é uma exigência e, além disso, ela fica bem pertinho daqui e a gente poderia ir andando.

Mas como esse era o primeiro final de semana livre de trabalho, a gente não se apressou em acordar e acabamos levantando tarde demais para um passeio mais longo. Enquanto tomávamos café-da-manhã, decidimos que o melhor seria passear por Thamel, já que a gente só foi lá uma vez e não deu tempo de conhecer o lugar como queríamos. No caminho nós passamos por uma porta bem linda, com uma placa dizendo "Garden of Dreams". Já que a gente não tinha um roteiro muito "fechado" e a ordem do dia era conhecer a redondeza, resolvemos entrar. O lugar é simplesmente um óasis! Não dava para acreditar que, no meio daquelas ruas tão sujas e mal cuidadas, pudesse existir um lugar tão perfeito! Gramados largos e verdes eram rodeados por lindos e imponentes palácios brancos. O lugar é um conjunto de "pavilhões", como se fossem vários jardins, construídos em diferentes níveis, que se ligam por lindas escadarias ou arcos cobertos de plantas trepadeiras. A construção convida o visitante a conhecer e descobrir cada parte daquele jardim, onde encontramos fontes, urnas esculpidas nas paredes, enormes estátuas de animais, arbustros podados de uma maneira que lembravam pequenos labirintos e um lago com carpas; além de alguns simpáticos banquinhos, que eram cobertos por caramanchões carregados de flores. No meio de um jardim, havia uma balanço gigante onde uma fila de crianças se divertiam. O dia estava lindo, com um céu muito azul e um solzinho tão quentinho que ficou fácil entender porque o lugar estava lotado de casais de namorados. A gente até queria sentar um pouco nos banquinhos e ficar ali, sentindo um pouco mais a energia do lugar, mas realmente não tinha um único lugarzinho desocupado! ;)
Fonte do jardim
Dé na frente e o balanço lá atrás, à direita


Saí de lá com a sensação de quem deixa o paraíso: já queria voltar correndo. Mas eu não sabia que surpresa, ainda melhor, eu iria encontrar: eu estava descendo as escadas da entrada quando , de repente, surge esse criança minúscula e abre um sorriso tão lindo que faz a gente se apaixonar imediatamente! Dava pra ver pelas roupinhas, o pé descalço e a poeira no corpo, que era um menino muito pobrezinhoEle cismou com o André e estendeu a mãozinha pro alto, pedindo um pouquinho de atenção. O Dé não resistiu, segurou as mãos dele e os dois foram brincar: O André começou a dar voltas de si mesmo, agarrando os braçinhos do menino, até que ele saisse do chão...Ele morria de rir! Quando o André achou que já estava bom, parou de rodar e tentou dar um tchauzinho, mas o garotinho agarrou a mão dele com força e não deixava a gente ir embora. O André não aguentava, começava a rir e voltava pra brincadeira. Mas o menino era decidido e só deixou a gente se despedir quando a mãe dele, que estava sentada na calçada e gargalhando das palhaçadas do filhote, segurou o garotinho e pediu que ele dissesse tchau! Nossa, essa criança é um ensinamento de vida! Como pode um menino de rua, que provavelmente passa fome e frio, ser tão feliz? Depois de conhecê-lo, senti vergonha de dormir num hotel 5 estrela todas as noites, de ter comida farta na mesa e me senti uma idiota por todas as futilidades que dou tanta importância. Eu sei que é piegas e que todo mundo sabe da pobreza do mundo, mas ver a situação desse garotinho partiu os nossos corações! Ele deveria estar vivendo com mais dignidade, com direito à alimentação, educação de qualidade e um pouco mais de conforto e segurança. Deu vontade de levar ele pra casa...mas vontade de verdade, vontade de cuidar dele pra sempre!

Dé e o pequeno!
                                                                 Vídeo dos dois brincando

Chegamos em Thamel, dessa vez com bastante tempo para andar pelas ruas e explorar cada detalhe desse lugar. A gente estava ali só observando, quando fomos abordados por um homem na calçada, que perguntou de onde nós éramos: "você é indiana, mas você (apontando pro André) é de onde?". Ele ficou impressionado quando o André respondeu que nós dois éramos brasileiros e disse que eu parecia ser uma indiana de casta alta,  pois tenho olhos grandes, pele clara e um nariz curvado. Eu sempre achei o meu nariz a coisa mais comum do mundo, mas TODOS aqui falam que o nosso nariz é super diferente, porque tem essa pontinha apontando para baixo. Eles já perguntam assim "vocês são de onde? Vocês têm o nariz curvado, né?" Eu, heim! Continuo achando normal.

Esse homem, de nome Noori (na verdade apelido), era na verdade dono de uma loja tentando conseguir algum comprador ali na rua. Esses caras têm uma lábia poderosa e é quase impossível dizer não para eles, então no momento em que ele começou a dizer "eu gostaria de convidá-los a conhecer a minha loja" , eu já sabia que estávamos perdidos! Os vendedores ficam pelas calçadas e tentam puxar conversa com qualquer um. Se você responder com um mísero "bom dia", pode preparar a carteira e os ouvidos, pq ele não te deixa ir embora sem contar como seus produtos são únicos e maravilhosos e que, pra vc, vai fazer um preço especial. É muito difícil dizer "não", porque eles te oferecem, literalmente, cada buginganda daquela loja. Por isso eu já estava ficando preocupada, mas só quando chegamos na loja do Mr. Noori foi que entendi a enrrascada em que me meti: ele vendia jóias! Não estávamos falando de imã de geladeira ou de caixinhas de chá....Foi só entrar e já fomos convidados a nos sentar (eles sempre te tratam como se vc fosse um marajá, técnica de conquista local) e, quando a gente menos esperava, o balcão na nossa frente estava coberto de mostruários com brincos, anéis e colares. Nessa hora você precisa olhar "o todo", não pode encarar um item específico, mas eu caí na besteira de olhar para um pingente e logo o Mr. Noori arrancou a peça do mostruário e lançou: "Esse pingente é feito de prata e pedras naturais, pegue para você ver como é lindo".  Danou-se! Eu segurei o pingente, que era mesmo bem lindinho, fazendo uma cara de quem sabia o que estava comprando... ai virei pro André, como se não entendesse uma única palavra em inglês, e perguntei pra ele:
   - Quanto custa?
   - "Ela quer saber quanto custa esse pingente", disse o André (em inglês, óbvio), virando-se para o Mr. Noori.
   - "7000 rúpias", respondeu o vendedor.
O André se virou para mim e me disse que custava 7000 dinheirinhos. "Isso é caro ou está mais barato que no Brasil?" Eu respondi que não tinha idéia de quanto custava no Brasil, mas que 7000 dinheirinhos eu não pagava mesmo e a gente tinha que ir embora. O André se virou para o Noori e disse que eu tinha falado que aquele preço era alto demais e que eu não ia comprar. Aí começou a barganha! Ele dava um preço, o André se virava pra mim (como se eu não tivesse entendido nada) e a gente começava a discutir em português. Depois ele se virava para o Noori e "traduzia" o que eu estava dizendo...Foi um método muito eficiente, porque o Mr. Noori ficava tenso toda vez que o André começava a me explicar a nova proposta e sabia que não adiantava ficar insistindo nas maravilhas do produto, porque eu simplesmente "não entendia" o que ele dizia. No final, ele mandou o André me perguntar quanto eu queria pagar: Saímos da loja com três pingentes de prata e pedra natural, que custaram 5000 dinheirinhos (os três juntos)! Essa é a nossa técnica agora: eu finjo que não falo inglês e o André finge que a decisão de compra é só minha.

No caminho para o hotel, paramos em uma banca tipo camelô que estava vendendo umas máscaras lindas. Gostei especialmente de uma cabeça de Buda, esculpida em madeira e pintada de um vermelho bem escuro. Custava 2700 dinheirinhos, mas quando o André abriu a carteira percebeu que eu tinha torrado todas as nossas rúpias com a barganha na loja de jóias. Dissemos que adoramos a máscara, mas que compraríamos outro dia, pois não tinhamos dinheiro suficiente. O vendedor disse que éramos a primeira venda do dia e que faria por 2100 rúpias, mas a gente também não tinha essa quantia. No final o homem disse que aceitava tudo que a gente tinha na carteira e que o resto (500 dinheirinhos) a gente pagava outro dia!

Voltamos pro hotel, jantamos e já estamos empolgados com o passeio de amanhã!

Bjos,
Manu

p.s: para ver mais fotos, acesse o álbum do facebook do André: https://www.facebook.com/?ref=logo#!/media/set/?set=a.1734314974071.56165.1724487074&type=3






sábado, 7 de janeiro de 2012

Meu casamento

Postado por Dani

Eu casei, oficialmente, no dia 30/09/2010, com a minha querida e amada sogra, Mirinha, por procuração. Segundo ela, é muito chique, porque muitas rainhas se casaram também através desse método hahahaha. Posso dizer que tive sorte com sogra nessa vida... Além de me dar muito bem com ela, se tem uma coisa que a Mirinha não pode dizer é que ela desaprovou meu casamento um dia, né? hahahaha

Mirinha e eu no "nosso" casamento


Tem quem diga que meu casamento só começou agora, dia 21/12/2011, quando vim morar com o Juliano. Sim, porque vamos combinar que a maioria das pessoas não leva muito a sério um casamento à distância, não é "normal". Atualmente tem tanto casamento diferente daquele tradicional, da época das nossas avós, e as pessoas ainda cismam em só levar a sério o feijão com arroz.

Na verdade, minha família nunca foi das mais normais, acho que porque é muito grande, então encontramos de tudo um pouco. Começando pelas minhas duas avós, que sempre tiveram jeitos opostos. Minha avó paterna, vovó Lurdinha, é do tipo moderninha, conversa sobre tudo, parece que nasceu na minha geração. Já minha avó materna, vovó Tetê, era bem vovozinha mesmo, daquelas que a gente vê em desenho animado, do cabelinho branco e que a gente mente dizendo que vamos casar virgem... Do tipo que está entrando em extinção, sabe? Eu nem sei dizer qual das duas eu gostaria de ser, porque cada uma delas é muito especial do seu próprio jeitinho. É difícil escolher entre duas pessoas tão diferentes em seu modo de ser, e igualmente inspiradoras!

E quer saber? Eu adoro isso, acho que as diferenças acrescentam muito às nossas vidas. Aprender que nem todo mundo tem que ser ou agir parecido com você pra ser feliz e pra ser uma pessoa maravilhosa, é algo que poucas pessoas conseguem compreender de verdade. Talvez ninguém consiga, pensando bem. Mas acho que ter uma família grande ajuda nesse ponto, porque por mais estranhas que sejam algumas atitudes dos seus familiares, por mais que você ache que nunca conseguiria conviver com alguém daquele perfil, ao se deparar com alguém assim dentro da sua casa, você acaba aceitando e tentando entender, porque o amor da família é incondicional. Os erros passam despercebidos e os acertos são sempre lembrados. As diferenças também são sempre lembradas, porque elas é que tornam uma família tão única e cada pessoa insubstituível. Esse é o espírito, pelo menos pra nós.

Portanto, pouco importa se meu casamento era "normal" ou não, se eu estava perto ou longe do Ju. No meu coração, eu não casei agora. Tenho certeza que ele sente o mesmo. E algumas pequenas coisas já vêm mudando faz tempo, eu venho aprendendo com ele e ele comigo. O Ju é mais paciente e costuma ceder um pouco mais que eu, em alguns aspectos. Admiro e gosto muito disso nele. Eu sou mais pavio curto, puxei a papai. Mas é por ficar tão satisfeita, quando ele se mostra assim comigo, que tento melhorar. A tolerância e a paciência tornam o dia-a-dia mais fácil e, ao meu ver, trazem muita harmonia.

Uma das mudanças mais notáveis no Juliano, pra quem vê de fora, desde que começamos uma vida juntos, foi a relação dele com os cachorros.

O Juliano nunca tinha criado um cachorro dentro da casa dele. Quando criança, ele teve uma cadelinha que ficava no quintal, mas ele enchia tanto o saco que ela o odiava. Já quem conhece a família Couto, sabe que somos "cachorreiros". É só a gente ter uma chance, que aderimos rapidamente um novo integrante canino ao bando.

Na primeira vez que o Juliano foi lá em casa, eu perdi as contas de quantas vezes ele lavou as mãos. Ele encostava nos cachorros, levantava e lavava a mão. Repetiu isso mil vezes, na maior paciência do mundo, sem reclamar. Acho que depois ele percebeu que não adiantava, porque os cachorros adoravam o colo dele e eram os donos da casa. Ele teve que se acostumar e agora só lava as mãos antes de comer.

Alguns meses depois, eu disse pro Ju que seria muito difícil pra mim não ter um cachorro na nossa futura casa, porque desde que tenho noção da minha existência, eu já tinha cachorro. Fez parte da minha vida e eu sou completamente apaixonada por eles. Casei, é verdade, mas eu não estava disposta a me divorciar dos meus amados bichinhos. Além disso, eu estava costumada a ter uma casa cheia e um cãozinho seria mais uma companhia!

Aí o Ju não resistiu ao meu drama e me deu a Jolie de presente, logo quando casamos. Foi o melhor presente que ele já me deu, por dois motivos.Um é que eu sei que pra ele, na época, foi quase um sacrifício, já que ele nunca foi muito fã dos cães, ainda mais dentro de casa. E o segundo motivo é que eu amaria ganhar um cachorro até do meu pior inimigo. Então, o presente ser um cachorro dado pelo meu amado maridinho, não poderia ser melhor!

Agora vejam só no que eu transformei o Juju (se quiserem um curso "como dominar o seu marido", liguem pra Manu, foi ela que me ensinou):

Ju e Jolie

Vocês pensam que essa foto foi armada? Eu estava na sala, assistindo minha querida novelinha, quando escuto um grito que vinha do quarto: "amor, corre aqui rápido e tira uma foto". O coitado do Juliano estava todo feliz, se achando importante, porque a Jolie deu preferência a companhia dele, ao invés da minha, por alguns segundos do dia. Mas até que ela está cada vez mais próxima dele mesmo, devo confessar. Quem pode dizer que um bichinho desses não deixa a casa muito mais alegre?

Como é dito no filme "Marley e Eu", nossa família começou quando a Jolie chegou. Ainda estávamos fisicamente separados, mas de coração unido! Pra mim, é isso que importa! Tradicionalismo em excesso, regras sem uma boa explicação e alto nível de intolerância é uma coisa que nunca se aplicou à família Couto e, se depender de mim, não vai se aplicar a família Fernandes, que estamos começando a construir.

Dani.